quarta-feira, 14 de julho de 2010

O dinheiro do mês

Quando minha mãe começou a trabalhar na casa de uma família em São Paulo, as coisas lá na casa de minha avó começaram a melhorar um pouco. Num dia ela trazia minha tia, no outro trazia minhas primas, e assim se seguiam os dias. Eu não sei como você sobreviveria com 100 cruzeiros, mas a minha avó e toda a sua família viviam melhor que muita casa de bacana.
Toda semana o carteiro apontava no pé de um morro próximo á casa de minha avó e, naquele instante, ela sentia um aperto forte no coração. Uma sensação que dá quando a gente espera alguém chegar de viagem depois de muito tempo longe, ou quando a gente vai receber o resultado de alguma coisa, que no final deu certo. Devia ser essa sensação que tomava o corpo dela todo. Ver o carteiro apontando no alto daquele morro era ter a certeza que aquele mês seria mais um mês vivido. Viver no interior da Bahia, há mais de 40 anos não devia ser tão facil não. Precisava de muita farinha com limão para aguentar aquela fome e aquele vento seco que batia forte na pele.
Depois de um mês de espera o carteiro chega com um envelope trazendo 100 cruzeiros vindos de Maria, sua filha, da cidade de São Paulo. Às vezes a pressa era tamanha, que o carteiro nem terminava seu trajeto, minha avó já estava em sua direção.
Mnha mãe conta que o rosto de minha avó se enchia de alegria.

Eu não tenho idéia de quanto sobrava para minha mãe por mês, mas só de saber que a sua família teria mais 30 dias com algum sossego já valia aquele dinheiro do mês.

Essa preocupação com os outros que me fascina, que me torna mais adimiradora dela. A humanidade dela me faz sentir uma coisa boa, um orgulho bom, daqueles que dá vontade de contar para todo mundo.

Quando ela me conta essa história, e eu posso dizer seguramente que esta é uma de suas favoritas, eu penso que aquele carteio foi essencial naquela história, na trajetória de um mês. Mal sabia ele quão bem ele fazia a minha família.

Na moeda atual, 100 cruzeiros não pagaria nem o selo da carta, mas quem se importa. Naqueles meses houve festa no coração de muita gente.

E o seu coração, já ficou em festa por alguém ou por alguma coisa?

Boa noite.

Até amanhã.

Bruna Ribeiro

2 comentários:

  1. Que lindo sabia, me edificou essa história e me emocionou.
    Assim agente encherga melhor que muito do que passamos é tão pouco perto de outros, e ainda assim reclamamos, ainda bem que o nosso Deus é misericordio e sem pre nos dá novas oportunidades para acertar!!
    Deus abençoe vcs mulhures lindas dessa familia!!!

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  2. Bru, gosto muito como você descreve aquelas pessoas que nem fazem idéia que fazem tão parte da nossa história. Como esse seu Carteiro. Gosto daqueles que entram distraídos sem saber que estão em cena.

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