sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ao meu lado

Se você sair da sua casa, caminhar na rua, como todo dia, pegar aquele mesmo ônibus de todo dia e chegar no seu trabalho, a probabilidade de você ter cruzado com o grande amor da sua vida pode ser enorme...mas será mesmo?
A Carrie, do seriado sex and the city, diria que alma gêmea não existe. Aquela ÚNICA pessoa, capaz de enlouquecer os seus sentidos e transformar o que você tinha de mais simples em um momento mágico. A sua alma gêmea não está te esperando do outro lado da rua, ela nao é o cobrador do ônibus de todo dia e nem o cara da sua academia, ela simplesmente não está lá.

Mas porque será que eu, você, perdemos tempo pensando nisso e simplesmente não nos permitimos nos apaixonar por qualquer pessoa?

Hoje minha mãe contava mais uma das suas histórias, quando ela deixou escapar uma frase que me faria pensar a noite inteira.

" Nós eramos vizinhos", disse.
Eu não tinha a menor idéia que ela e meu pai eram vizinhos.
E eu acho que nunca veio a minha cabeça perguntar, porque eu ia achar que essa história ficaria ainda mais perfeita se eles fossem vizinhos, o que não é verdade, ela já é perfeita por si só.

Será que essa coisa de encontrar aquele principe encantado era de fato verdade?

Vizinhos, você acredita?

Um do lado do outro. Quando um tomava banho e cantava embaixo do chuveiro, o do outro lado ouvia, e parece que gostava daquilo; quando tinha briga em casa, o outro já sabia; a comida que suas mães preparavam; o que ele deixava no seu lixo. Tudo.
Aquele cara, com aqueles hábitos e manias, seria o pai dos seus filhos.

Minha mãe vive falando: Ah! Você é igualzinha a seu pai quando menino. E ela sabia do que estava falando.

Será que ela sabia que iria se casar com ele?
Será que teve alguém que disse que meu pai era a pessoa certa para ela?
Será que ela queria saber disso?

Ás vezes pensar que temos apenas uma única pessoa na vida nos enclausura numa sala escura e limita que apenas uma única pessoa, e A pessoa, tenha a chave.
É claro que quero casar e ser feliz e fazer o outro feliz, mas não sei se vou me casar com A pessoa das chaves.
Porque se te falarem depois de anos que ela tinha a cópia das chaves, você não acreditaria, porque era bom, era completo daquele jeito.
Eu acho que existe uma pessoa certa, mas não perfeita a ponto de vir num cavalo branco e dizer: Sou eu, aquele único cara que podia te fazer feliz!! Não..não é assim.

Eu não sei, mas essa coisa do meu pai morar justo do lado da minha mãe me fez pensar que eles podiam ter sido feitos um para o outro e que eles eram, sim, as suas almas gêmeas.

Não.

Eu não acredito em alma gêmea. Que tem alguém que vem e fim.

Ela pode morar do lado da sua casa, ou não.
Pode se mudar e depois de 10 anos se reencontrarem...ou não.
Pode viver ao seu lado e te fazer a mulher mais feliz desse mundo...ou não.

Meu pai era um cara, que morava do lado da sua casa, que cantava só para ela escutar debaixo do chuveiro e que se casou com ela.
E fez ela feliz. Muito. E eu posso provar para quem quiser saber.

Ele era alguém que não tinha exatamente tudo que uma mulher queria, ou pelo menos minha mãe, mas tinha alguma coisa nele que fazia minha mãe perder o fôlego.
Isso eu acho que era só dele.

Deixa  pra lá essa história de alma gêmea.
Tente perceber dentro de você, quando olhar para alguém, um barulhinho bom, uma certeza de que está fazendo a coisa certa. E o resto, de saber se toda essa história existe, você inventa depois.

Até porque se aquela pessoa que você está apaixonada não te corresponder mais, ela será descartada na hora e você dira: "Ela, definitivamente, não era a minha alma gemea!"
É porque deu errado?
Até 3 minutos atrás ela era...

Minha mãe não era feliz com o dono das chaves.
Mas com aquele que fez aquele barulhinho, sabe!





Até mais.

Bruna Ribeiro

terça-feira, 29 de março de 2011

60 anos !

Eu sei que já faz mais de um mês que essa tão esperada data aconteceu e que esse marco preencheu mais uma linha dessa história maluca de vida boa, mas podia passar um ano, dois, trinta ou mil, eu escreveria sobre ela e sobre os seus 60 anos.

Sessenta anos não é para qualquer um. Ah! Mas não é mesmo. Primeiro porque você deve estar achando que a minha mãe é aquela velhina, que não faz nada da vida, ou seja, que tem aquele esteriótipo básico de uma mulher que chegou na terceira idade. Ela tem algo a mais. Ela é diferente, ela se supera, ela trás graça. Aos seus longos e experientes 60 anos ela trás coisa nova e coisa boa.

Dia 5 de fevereiro ela fez esses esperados anos e é claro que eu e minha irmã não deixaríamos que essa data passasse despercebida. Pensamos em tudo. Churrasco, amigos, família, música boa e um dia incrível, de muito Sol. Juro, eu desacreditei daquele dia, tava lindo.

Quando cheguei em casa, depois de tapear a minha mãe com alguma desculpinha esfarrapada, porque afinal tudo isso era surpresa, abro a porta do primeiro portão do prédio e me deparo com uma mulher de lenço na cabeça ao final do corredor. Pensei: 1º- Nunca vi mais gorda. 2º- Eu espero que não seja a minha mãe com aquele balde na mão.
Ah! Meu queridos leitores..era a própria! Com um balde na mão e com um lenço na  cabeça ela esbanjava graça e, para abrilhantar mais aquele dia, a tintura do cabelo escorria entre as orelhas e chegavam ao pescoço em questão de segundos.
Minha mãe, aos seus 60 anos não conseguiu tomar banho, porque a água da caixa não chegava até minha casa! Eu quase morri de tanto que eu dei risada.
O fim dessa novela, foi eu subindo e descendo as escadarias com um balde cheio de água e minha mãe com a cabeça no tanque.

Mas isso não tirou o charme daquela mulher. Em pouco tempo ela estava linda, com um vestidinho de deixar inveja a qualquer mocinha de meia idade.

A porta do elevador abriu e estavam todos, exatamente, da maneira como eu imaginava. De pé, aplaudindo e dizendo os seus mais sinceros parabéns.

Era amigo próximo de todo dia, amigo de faculdade, amigo de muito tempo, sobrinho de outra cidade, filhas, genro, amigo do amigo que virou amigo. Estavam todos lá.

Cada enfeite de mesa, cada presente, cada música foram pensando nela e sempre será.

E depois de viver aquele seu dia, a noite terminou com um belo cochilo no sofá, com uma música boa no fundo e com o livro "De todas as mulheres" agarrado nos braços.

Ela leu todos os textos e gostou. 

Aquele bando de idéia e de sentimentos meus...ela gostou.


Rumo a segunda edição do livro!
Rumo a mais histórias boas!
Rumo a vida!


Até mais.

Bruna Ribeiro


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

E foi só um sorriso...

Presume-se que se você está em São Paulo a probabilidade de estar sozinha é quase que ímprovável... Ou você está no trânsito, ou no metrô, ou na academia, ou na padaria do bairro, mas nunca sozinha. Mas será que esse bando de gente que passou por você, e que você nem sabe o nome, fez alguma diferença no seu dia?
Deveria ter feito... pelo menos eu acredito que sim.

Essas pessoas que passaram e você nem esperou mais alguns minutos para conversar poderiam ser seus melhores amigos, ou a maior paixão da sua vida... e você nem apostou para ver.

Ele pode ser hoje o amigo do amigo que virou seu melhor amigo, ou aquela prima que você não via há anos e que virou sua maior confidente das madrugadas...
Eles estavam ali, você querendo ou não, eles passaram na sua vida e naquele dia você olhou diferente para eles.

Depois de ter chegado atrasada para pegar o ônibus com a minha mãe, e não sentar ao seu lado, eu olhei para ela com outros olhos, olhos de uma pessoa que estava olhando- a de longe, sem maternidade envolvida, sem pré conceitos enraizados nesse meu papel de filha e pensei que se ela não fosse minha mãe, ela chamaria minha atençao, pelo simples fato de estar sentada daquele jeito e fazendo caras e bocas com aquela música horrorosa que estava tocando. Eu ia querer sentar ao lado dela, porque em questão de segundos, ela franzio a testa com ar de reprovação, mas logo em seguida inclinou sua cabeça para me ver e  dar-me um sorriso.

As outras pessoas do ônibus se tornaram, naquele momento, completamente, desinteressantes e pequenas; nem a música horrorosa do celular daquele menino me encomodava mais.

Que poder que as pessoas tem em suas vidas e que raios cada uma veio fazer aqui, na minha vida?

Porque o moço da academia, ou o rapaz do metro, ou a menina do onibus em salvador, ou o dono da barraca na praia do flamengo, ou a minha prima que eu não via há mais de anos, ou o amigo do amigo, ou a melhor amiga que veio morar com você num belo dia de dezembro?...eu sei lá.

Eles apareceram..e agora?
Deixo- os ir, sem dizer mais nada? Sem pedir para que voltem e façam denovo e melhor?

Minha mãe levantou- se do onibus, e eu disse para ir com Deus e que quando chegasse em casa, ligaria. E por mais que a minha historia de pegar três conduções depois daquela não fosse nada interessante, a gente conversou por 13 minutos no telefone sobre isso... 13! Ela se interessou pela minha historia. pela minha vida. pelos meus 23 anos de vida.

Que poder é esse que essas pessoas tem de me deixar com os olhos molhados e me sentir ainda mais viva e cuidada com apenas um telefonema, ou com uma proposta irrecusável numa segunda feira chuvosa?

Ela estava de mochila nas costas, de tênis e subiu aquelas escadas correndo por causa da chuva e eu vi um poder que eu jamais tinha idéia que causaria sobre mim, só de olhar para ela.

Eu penso que o que me resta é esperar que outras pessoas apareçam e que eu consiga causar pelo menos uma força nova e renovadora. Eu peço isso.

Que respeito que eu tenho por aquela mulher sentada no banco proximo ao meu.
Que sorte eu tenho de ser aquela pessoa a qual recebeu aquele sorriso.


Até um dia.

Bruna Ribeiro