terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Colegas de profissão

Eu juro de pés juntos que ela um dia me disse: "Se eu tiver uma filha enfermeira eu vou deserdá-la!" E não foi assim que aconteceu.

Eu sei que ela não queria que eu seguisse esse caminho, até porque a profissão que escolhemos, ou que a vida nos permitiu entrar, é feita de altos e baixos, mas de acordo com ela, você consegue um emprego e pagar as suas contas.

É claro que não podemos comparar a sua época da minha, pois primeiro: estamos em épocas completamente diferentes...os anos 80 nem sequer se comparam com os " tempos modernos", e , principalmente, pois o que nos colocou nessa profissão foi um acaso diferente, uma pelas contas a pagar e pela gosto do trabalho e daquilo que fazia; a outra por querer uma coisa, depois outra, depois outra...

Depois de 4 anos integrais eu faço parte da mesma profissão que minha mãe, do mesmo legado que ela ajudou a construir.. e eu não tinha idéia do tamanho que isso significaria para mim nos meus 13 anos.

Hoje eu sou enfermeira, mas não do mesmo jeito que ela, não com as experiências dela, não com o conhecimento dela, e eu nem sei se tenho essa pretensão, mas posso dizer quantas vezes eu verei a mesma mulher que me motivou escrever tudo isso, a enfermeira que ela é, minha colega de profissão, ser a primeira a me aplaudir pela escolhas que farei na vida. 

E ela não cumpriu com que havia jurado de pés juntos.. ainda bem!


Até outro dia.

Bruna Ribeiro 

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Simples assim

Eu amo essa mulher com tanta força, que eu não sei nem explicar. É uma vontade de abraçá-la e proteger de qualquer mal que um dia possa acontecer, na mesma intensidade que eu adoro coloca-lá pra dormir no meu colo de filha nos domingo à tarde. É tentar proteger com toda a minha força de filha, apenas colocando o dedo bem próximo do nariz dela, só para sentir a sua respiração e saber que hoje ela terá uma noite tranquila. Porque é com ela que as coisas tem mais graça, que as coisas ficam com ar de sarcasmo e deboche, é com ela que os assuntos ficam sérios, mas que se transformam em piada em questão de segundos. É um amor que me faz  nunca estar satisfeita em vê- la só de final de semana e achar que isso jamais vai suprir a falta que ela fez na minha semana caótica. Mas é saber e sentir que de todas as mulheres que existem nesse mundo e que são exemplos para gerações, é ela que me emociona, me apaixona pela vida, me aconselha sem autoritarismos e me mostra, sem dizer nada, que nessa vida a gente tem que ir a luta!  

Valquíria, 59 anos, mãe de 2 filhas, viúva, enfermeira e a maior das minhas paixões.


Até um dia.

Bruna Ribeiro

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ela une todas as coisas

"Ela une todas as coisas
como eu poderia explicar,
um doce mistério de rio,
com a transparência de um mar...." Jorge Vercilo
Eu não sei para quem ele escreveu essa música, mas que ela consegue retratar tudo o que a minha mãe é, ela consegue. 
Num sábado a tarde, chego em casa depois de pegar o ônibus errado na rodoviário e ser recebida na minha linda cidade com chuva, eu sento no sofá e como a comidinha da mamãe. 
Ao fundo, escuto uma música que me era familiar. Parecia uma canção mais pop ,porém um pouco mais melodiosa. Fiquei pensativa por alguns segundo, quando me veio a cabeça. " Já sei, LADY GAGA, com seu novo sucesso ALEJANDRO. 
Neste mesmo instante, minha mãe passa pela sala assobiando...e sabe qual era a música?! A própria! ALEJANDRO, ALEJANDRO!!!

Eu quase tive uma síncope!
O mesmo biquinho que assobiava " ... simplesmente as rosas exalam, o perfume que roubam de ti..." e " descobri que te amo demais, descobri em você minha paz..." era o mesmo que assobiava a louca!!!

Agora me diz se ela não consegue, mais do que ninguém, unir todas as coisas.

Boa noite.

Bruna Ribeiro


terça-feira, 31 de agosto de 2010

Viver é etecetera

Felicidade se acha é em horinhas de descuido.

Começo assim meus retratos que venho guardando há algum tempo nesse espaço que chamei de meu. Guimarães Rosa devia ter uma mãe muito boa, uma mãe tão presente quanto a minha, daquelas que dá gosto de parar numa quinta feira ás 02:30 da madrugada e ter uma inspiração. Drummond diria que a inspiração é algo físico, que sobe pelo corpo da gente e que precisa ser expresso de alguma maneira. E é por isso que estou aqui.
Nas minhas andanças por São Paulo e na descrepância que ela apresenta, pois você consegue ir desde uma loja que tem aquela blusa incrível de 10,00 reais, até o museu da língua portuguesa, observei um sentimento bom. Fui nos dois. Mas terminei no andar separado só para o Fernando Pessoa. Incrível. E lá eu comecei a observar como o amor pode ser inteiro se dito por alguém que já viveu demais, como o Fernando e deixou seus escritos como prova daquilo. Até mesmo os heterônimos criados por ele tinham lá sua admiração pelo criador.. até porque ele seria alguém a se seguir.
Ai, depois de ter caminhado por toda aquela informação que refrigera a alma, e escutar durante longos e pequenos 20 minutos poesias ditas em alto e bom som numa sala escura eu lembrei da sorte que eu tinha em ter uma mulher que está lá por mim, para o que eu precisar. Quando escutei poesias de amor, eu lembrei dela e lembrei que ela cabia em todas aquelas linhas, em toda aquela profundidade, em cada palavra do Guimarães Rosa. 
E na medida que aquelas palavras vão sendo pronunciadas, eu me lembro que eu preciso passar ainda mais tempo com ela, para preencher o meu vocabulário e meus textos que andam muito vazios.
Quando penso que o muito tempo que passo com ela é pouco, eu penso que eu lá tenho sorte com coisa alguma?!
Mas, porque eu? Porque eu tive que nascer na família que estou e com a mãe que tenho?
Porque se depender de mim eu não respondo essa pergunta de jeito nenhum. Acho que não saberia dizer e nem usar todas as palavras que são pertinentes a ela.
Será que foi sorte ser filha dela? Será?
Acho que não.
Porque se eu tivesse sorte mesmo eu talvez não acreditaria até hoje que isso pudesse acontecer. Não foi sorte, era para ser e sendo assim, a sorte não entra neste mérito.
Eu não tenho sorte coisa nenhuma, eu tenho é um privilégio do tamanho do mundo, do tamanho da descrepância de São Paulo, do tamanho da minha vontade de achar e ter certeza que Deus fez tudo isso para mim.

Sabe aquela mãe que coloca seu corpo inteiro no fogo por você; que é capaz de brigar com qualquer pessoa, mesmo que não tenha certeza; que com o coração partido fica dias sem voltar para casa, só para te dar alguma coisa que você nem vai precisar tanto assim...

Acho que não é sorte...é amor mesmo.


Boa noite

Bruna Ribeiro




sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Deixar estar, porque o que for para ser vigora.

Pense num amor bom, um grande amor daqueles arrebatadores, daqueles que fazem, até hoje, o seu coração pulsar forte, assim como era há algum tempo atrás; aquele amor que fez você muitas vezes perder a paciência, mas depois de segundos fez você perceber que estava só perdendo tempo com aquela briga estúpida. Sabe um amor puro..então, esse. Mas que depois de um tempo, não sei quanto, ele se foi. Da maneira mais inesperada ou , completamente, compreensível ele se vai, indo da mesma maneira como entrou e você, ficando com aquele mesmo vazio do início. O tempo passou, as coisas e o mundo mudaram de lugar e você está lá, vivinha da silva, sem nenhum fantasma te assobrando, apenas com algumas cicatrizes que serão dificeis, bem dificeis de sarar...Mas você vai sobreviver. Ela sobreviveu.
Que mania é essa que alguém tem de entrar em nossa vida e tranformar aquilo que estava calmo em um caos em questão de segundos.
Mas as paixões acabam e ninguem morre disso...ou morre?
Essa semana eu pensei como as pessoas deixam marcas em nossa vida e que bom por isso, porque senão não teria sentido tanta gente todo dia e nenhuma recordação, mesmo sendo a menor possível.
Paixões que passaram tiveram um fim, seja ele qual for, elas tiveram um fim. E você pode lembrar delas lembrando das marcas que elas deixam, mas podem lembrar delas de como foi difiícil esquecê- las. Eu relembro a vida de minha mãe e do seu amor com meu pai e percebo que aqueles amores  passados viraram figurantes naqueles 15 anos de casamento, viraram coadjuvantes na história que meu pai era o ator pirncipal. Ele não fez nada que você não faria ou nada tão mirabolante para minha mãe cair aos seus pés...não. Era consciente, ele e ela eram consciente do que viviam e não precisavam provar para nenhuma das marcas que eles eram felizes.
Não quero parecer fria, nem deixar com que os outros amores pareçam ser menos importantes, mas quero tentar pelo menos uma vez na vida entender como é dificil esquecer alguém, considerando a época da vida que você está e da disponibilidade do seu coração em se apaixonar. É dificil pra carmaba e tenho certeza que todo mundo tem uma história "mal finalizada" e que na maioria das vezes esse amor que ainda não terminou foi a pessoa mais dificil que você teve que esquecer.
Pelo menos comigo foi assim.

Então quando digo em ter a sorte de viver outros amores, quero dizer que é  um privilégio vivenciar  o verdadeiro amor da minha mãe e de meu pai e, como diria Jorge Vercilo, entender que todos aqueles amores foram ponte para que o grande amor chegasse até ela. 

Ai nessas horas eu me pergunto se a minha mãe teve sorte em encontrar, ou melhor, reencontrar meu pai e gostar do que via e aceitá-lo da maneira como ele era. Aceitá-lo sem esquecer os outros, mas tendo a certeza que meu pai era a peça que faltava para que todas as outras coisas caminhassem. 
Eu acho que não foi sorte...era pra ser. era pra dar certo.

Entender esses ex-amores como passado é quase uma dor fisica, dolorosa. 

Acho que não me lembro de nenhum dia minha mãe contar como esqueceu todos que passaram...mas também, passou e vai saber se ela esqueceu mesmo...você não esqueceu também, né?!

Mas mesmo depois que eles passam e que as coisas se aquetam denovo, eu percebo que o grande barato da vida é se apaixonar, e se apaixonar, e quando não tiver nada para fazer, se apaixonar denovo e denovo, em qualquer lugar, num dia chuvoso, ou numa feira popular, mas se apaixonar por tudo e por todos.


"Há tempo para tudo debaixo do céu" ... não vamos apressa as coisas...



Boa noite


Até amannhã


Bruna Ribeiro

terça-feira, 27 de julho de 2010

Que poder é esse

Eu tenho que escrever um texto sobre isso. Um texto que fale da coisa mais pura e da coisa mais estranha. O amor.

Que poder é esse que esse tal de amor tem. Que mania é essa que ele tem de chegar na minha, ou na sua vida e mostrar as caras, sem perguntar se você está preparada ou se está só querendo curtir um pouco mais aquele momento. Ele é estranho, mais um estranho bom, sabe, que mesmo que seja ruim, se não tiver faz falta, fica sem graça.

Eu não sei te dizer qual tipo de amor minha mãe tinha pelo meu pai, mas era grande.
Grande do tamanho de querer casar e ter filhos.
Grande de ter um poder para conduzir uma história de 10 anos de ausência, mas seguida de um belo reencontro.
Imenso a ponto de ser exclusivo, ser só dela e ser só dele.

Eu acredito que sem ação ele é morto e perde a força, por isso eu consigo, com as minhas palavras, tentar imaginar como era o amor dos dois, pois eu via o que ele fazia e o que ela demostrava diariamente.

É dificil ter um pai que bebia e fumava, constantemente, e mesmo assim ama-lo, do jeito que não dá para entender de onde vinha tanto amor.
Minha mãe se permitiu gostar, se apaixonar e amar meu pai e eu acho isso fundamental para qualquer pessoa. Você pode insistir para que aquilo dê certo, mas se não for no momento e hora certa, sem chance.
E como pode, depois de 10 anos, se reencontrarem e ficarem juntos durante 15 anos e saber, ou melhor, ter certeza, que eles foram feitos um para o outro.
Eu não sei se eu sei, e será que eu vou saber na hora que for?

Eles se olhavam como antigamente, como o primeiro encontro, como no primeiro beijo, como na primeira vez, e isso eu acho o mais fascinante de tudo, porque era novo todo dia. Que poder é esse que esse tal de amor tem para fazer isso com os meus pais, com a minha vida?!
Eu fico sem ar e ao mesmo tempo com vontade de chorar ao lembrar como eles eram felizes pelo simples fato de estarem juntos.
No dia a dia, no telefonema, na hora que meu pai levava o almoço dela no trabalho, nas flores que ajudavam nas surpresa, nos sapatos brancos que ele insistia em comprar, porque eram a cara dela, na comidinha de todo dia que ele fazia, no melhor churrasco do mundo, nas viagens à Campos do Jordão, nos beijinhos escondidos antes de se despedir....existia amor, e eu tenho certeza que ele estava ali.

E por ela, e pela sua história, eu aprendi a ter amor e dar amor, seja para qualquer pessoa que for e em qualquer situação. É uma herança de minha mãe, uma bela herança diga-se de passagem. Não foi no carro que ela me deu, nem na faculdade. Não. Foi amor e ponto.

Preciso achar mais gente para dar amor e para viver de amor e para morrer de amor.

Minha irmã, meus amigos, uma bela noite de lua cheia, um abraço sem esperar, um telefonea no fim do dia, um romance que custa dar certo me fazem sentir muito amor.
Ainda bem.



Até amanhã.

Boa noite

Bruna Ribeiro

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Trilha sonora

Dalto Roberto Medeiros (Niterói, 22 de junho de 1949), artisticamente conhecido como Dalto, é um cantor e compositor brasileiro.
No início da década de 70, Dalto atua como vocalista do grupo niteroiense de rock "Os Lobos", com o qual gravou o compacto Fanny pela gravadora "Top Tape". Após esse breve início de carreira, sai do grupo para estudar Medicina, formando-se médico. Em 1974, lança-se em carreira solo gravando um compacto simples para a Odeon. O sucesso, contudo, só apareceria mesmo nos anos 80, mais precisamente em 1981, quando obteve seu primeiro êxito como compositor com a canção Bem-te-vi, parceria com Cláudio Rabelo mas gravada por Renato Terra, a qual vendeu 250 mil cópias.

Dalto, o cantor das madrugadas, embalava os corações apaixonados e pulsantes, cheios de amor e vontade de viver romances de tirar o fôlego.

Valquíria foi apresentada à Dalto de um jeito um tanto quanto peculiar. Não foi na rádio, nem em uma discoteca da Ilha Porchat, mas pelo telefone.

Meu pai, ex- jogador do Ituano-SP, era romântico. Por mais que tivesse aquela cara de bravo e aquele porte mais sisudo, ele gostava de impressionar. Viveu anos com uma mulher e seus 3 filhos que ajudava a criar e, durante esse tempo, desapareceu. Minha mãe, ainda sentida pelo romance com o piloto tinha um sonho de casar e ser feliz e fazer o outro feliz. 

Depois de 10 anos um telefone tocou.
- Alô?!
- Escuta essa música:

Olhar você
E não saber
Que você é a pessoa mais linda do mundo
E eu queria alguém bem no fundo do coração

Ganhar você
E não querer

É porque eu não quero que nada aconteça
Deve ser porque eu não ando bem da cabeça
Ou eu já cansei de acreditar...

O meu medo é uma coisa assim
Que corre por fora entra vai e volta sem sair
Não, não tente me fazer feliz
Eu sei que o amor é bom demais,
Mas doi demais sentir

Você,
E não saber
Que você é a pessoa mais linda do mundo
E eu queria alguém bem no fundo do coração

O meu medo é uma coisa assim
Que corre por fora entra vai e volta sem sair
Não, não tente me fazer feliz
Eu sei que o amor é bom demais,
Mas dói demais sentir

Você,
E não querer,
É porque eu não quero que nada aconteça
Deve ser porque eu não ando bem da cabeça
Ou eu já cansei de acreditar...
Humm... ou eu já cansei de acreditar,
Ou eu já cansei.....

- Valdec, o que significa isso?
- Quero te ver...e tem que ser hoje! Podemos nos encontrar?

E depois dessa conversa nada convencional pelo telefone, eles se encontraram num barzinho perto da casa de minha mãe, e com mais um casal de amigos que tramavam isso com o romântico Valdec, conversaram e decidiram viver juntos.

- Você quer ficar comigo?
- É o que eu mais quero na vida.
- Então é para casar! Eu quero ter filhos e quero que eles saibam que eles terão um pai. E eu espero que ele seja você!
- Valquíria....
- Oi...
- Quer casar comigo?

Isso era meados de Outubro, então você já pode imaginar que noite boa que fazia no litoral.

Em fevereiro eles casaram e em dezembro veio o primeiro presente de Deus. Alyne, sua primeira filha.

Minha mãe se casou com o grande amor da vida dela; com o homem que era e sempre será a referência de nossa casa, referência de amor e cuidado que ela tanto queria que ele fosse.
Ela sonhava com um pai zeloso, e a gente tinha o melhor homem para isso.

 Depois de um tempo, meu pai deu a minha mãe o vinil que ele usará naquele dia, com uma dedicatória:
" Para a minha esposa, de seu Valdec". Ela guarda esse disco como uma relíquia, como se fosse a primeira grande prova de amor. Lindo, né?!

Valeu, Dalto!
Você conseguiu juntar meus pais mais uma vez.

E, mesmo com a distâcia que Deus permitiu que acontecesse, eles ainda estão juntos e ligados pela melodia  brega, linda e perfeita.

As história boas, aquelas que dá gosto de contar, sempre são embaladas por boas músicas.  Eu não sei quais são as músicas e letras que embalaram a sua história, mas tente escolher aquela que daqui há alguns anos, te faça ficar sem ar e fazer seu coração bater da mesma maneira que a ouviu pela primeira vez.

A gente nem tem mais vitrola em casa e assim fica quase impossível de escutar, mas eu tenho certeza que  ela lembra da música, lembra em que lugar o vinil tá arranhado e se está no lado A ou lado B.
Eles sabem...

  " Faça um pedido
Jogue a moeda na fonte comigo
Quem sabe o amor dirá que sim, que sempre
Esperava por nós ali.
Basta um desejo
Basta um beijo sem nenhum motivo
É só acreditar no amor, pra sempre
Que o céu saberá te ouvir
". Dalto

Até amanhã.

Bruna Ribeiro






 

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A vida é grande pra caramba

Só de sair de casa você percebe que a vida é grande pra caramba.

Despretenciosamente, você coloca a primeira roupa que vê na frente e vai caminhar na praia.
Sabe aquele dia que não está nem muito frio pra você sair de casa de gorro e luvas, porque em Santos é assim, faz um ventinho um pouco diferente, as pessoas já estão tremendo os lábios; e nem muito calor, para você pegar sua cadeira e torrar no Sol. Não, estava aquele dia que você tinha que sair de casa para, simplesmente, caminhar na praia e perceber como é bom demais caminhar na praia.

Se eu pudesse fazer uma lista de coisas que eu agradeceria minha mãe, seria ter saido daquele fim de mundo, ir para São Paulo e resolver, sei lá porque, morar em Santos. Para muitos a minha cidade não serve pra nada, só tem as oferendas pra Iemanjá que duram o ano inteiro e aquela areia escura por causa do mangue, mas que bom que eu moro em Santos e que bom que eu posso caminhar na praia.

Hoje eu consegui ver na minha caminhada como tem vida por ai; como tem amor, felicidade, sossego, choro, conversa fiada, declarações de amor. Tem aqueles meninos que jogam bola ao longo da praia e que fazem daquele momento o mais importante de suas vidas; os cabelos despenteados e desfigurados daquela senhora, depois de um vento louco e desmedido; tem os magrinho, cheinhos, baixinhos, de chinelo, de tênis, descalços, de qualquer jeito. Ai, você começa a perceber, e para isso precisa sair de casa, que tem histórias acontecendo com um cenário perfeito.

Depois de pequenas coisas como, varrer a casa numa quinta- feira a tarde e cortar pequenos pedaços de bolo de banana para ver uma revista de fofoca com a sua mãe, eu percebo que a vida já me deu coisa pra caramba. 
Essa semana, você já se sentou com a sua mãe para jogar conversa fora? Voce devia fazer isso.

Depois de ver minha mãe chorar de rir por alguma piadinha do FRIENDS e dormir como um bebê depois dos plantoês noturnos no Pronto Socorro, eu vejo que a vida me dá coisa pra caramba.

Lembrar dela colocando aquele lenço antes de sair para qualquer lugar num sábado a noite, eu percebo que a vida é linda pra caramba.

Depois de ve- la dando suas opiniões sobre qualquer assunto que os telejornais possam promover, eu percebo que a vida é sabida pra caramba.

E depois, de andar pela praia, naquele por-do-sol que se eu fosse você não perderia mais um daquele de jeito nenhum, e ver a alegria daquela família em tomar um suco de laranja juntos ou de ver os meninos jogando bola, eu lembro da minha linda mãe e dos vários momentos simples que passamos juntas, porque ela me faz perceber que a vida é bonita pra caramba. 
Caminhar na praia me fez pensar que as coisas são tão simples e a gente só dificulta, ou melhor, a gente perde tempo e não pecebe que a vida acontesse e você, eu, muitas vezes não está nem ai.



Hoje eu sorri pra todo mundo que passava na rua.
Sorri para o goleiro do jogo de futebol, para o cara da bicicleta...
Sorri daquele jeito de canto de boca, sabe?!

Desejo pra você muita vida, pra caramba!

Até amanha.

Boa noite

Bruna Ribeiro











sexta-feira, 16 de julho de 2010

Com açúcar, com afeto

N um sábado à noite, numa roda de música boa e com pessoas mais chegadas que irmãos eu escutei Chico, mas escutei de um jeito bem diferente do que haviam me falado.
O cantor me apresentou uma canção que falou comigo, que tinha nome, sobrenome e vida.
Naquele sábado eu lembrei de coisas boas! De uma história boa.
O cantor daquela noite, pois não me recordo o seu nome, disse antes de cantar que esta era a maior prova de amor que ele havia escutado em toda a sua vida.
Agora veja se você não se apaixona por ela como eu me apaixonei.
Dedico a minha mãe e sua linda história com meu pai.
E para você também, David.


Aproveitem o final de semana.

Boa noite.

Bruna Ribeiro


Com açúcar, com afeto - Chico Buarque de Holanda

Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é operário, sai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê
No caminho da oficina, há um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol

Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma nontroppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar

Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
Como vou me aborrecer, qual o quê
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro meus braços pra você

quinta-feira, 15 de julho de 2010

E por falar em saudade, como anda você.

Parafrasenado Vinícuis de Moraes, o melhor bem para saúde é um amor correspondido. E ele tinha toda razão.

Numa terça- feira (o dia eu inventei, porque gosto do começo da semana para essa história), na saída da Santa Casa de Santos, onde ela trabalhava, ela o encontrou. Os olhos que estavam perdidos sei lá onde ou simplesmente procurando algo interessante para olhar, se encontraram. Como dizia Maria Rita em uma de suas canções, o encontro dos olhares durou longos e intensos dois segundos; dançaram uma música e voltaram para o seu lugar sem levantar da cadeira.
Você já se apaixonou por alguém só de olhar dois segundos e depois se desapaixonar em seguida? Eu faço isso direto! No metrô, indo para faculdade, na fila do banco. Ah! já fiz muito isso. Sabe aquele olhar que vem em seguida de um sorriso no canto da boca meio tímido sem vontade de aparecer, mas que sempre tem uma senhora atravessando a rua ou uma criança que estão olhando diretamente para sua cara naquele momento, e você fica sem graça, querendo cavar um buraco no chão? Então, é disso que eu estou falando.

Daquele olhar surgiu o primeiro encontro, e este deve ter acontecido em um dos bares perto do canal 1, pois era onde ela morava em Santos. Minha mãe acredita que ele a observava há muito tempo e que só teve coragem naquela terça- feira. Depois de um tempo, mudaram-se para o Guarujá e por lá viveram 5 anos. Mal sabia ela que o 2º grande amor de sua vida, como ela o chamava, estava a poucos metros de sua vida. Eu acredito que o 2º, ou 3º, ou o grande amor da minha vida mora a alguns metros da minha casa, porque quem pode me provar o contrário?
Com você não foi assim?

Ele era piloto de avião e sempre  ficava fora da cidade. Tinha 1,90m e usava roupas com um tecido que ela odiava. Ela, uma mulher de 28 anos, que tinha deixado para trás, ou adiado por alguns anos, o amor do meu pai.

Eles estavam dispostos a viver aquilo, mas atire a primeira pedra quem não acha muito difícil  acreditar que isso possa acontecer com você? Que um amor louco, que aconteceu do nada, que ambos estão no momento certo e se amam, pode acontecer com você, comigo?
É meio surreal pensar nisso nos dias de hoje, porque com certeza algum dos dois vai achar uma desculpa esfarrapada para dizer que está cansado dessa vida, ou que hoje não é um bom dia. Acho que eu estou um pouco desiludida com o amor, você não acha?
Talvez essa desilusão se responda por eu ainda não estar no momento certo, ou porque não encontrei alguém tão disposto como eu. Será que ela pensava a mesma coisa que eu aos 28 anos?

Um Opala era o carro que conduzia aquele amor louco e desvaerado pelo litoral do Brasil. " Você está de folga na sexta?", " Sim, porque?", " Porque vamos para o Rio de Janeiro, arrume suas coisas". E assim eram feitas as viagens nada planejadas dos dois. " Filha, o carro era tão grande, que parecia uma casa".

Era um amor vivido, um amor irremediável, um amor puro, que não sabia a força que tinha, um amor de anos, de 5 anos, daqueles que enchiam os olhos da minha mãe de lágrima. 
" Quando estou em meio aos devaneios de meu pensamento, me vem você à cabeça...", diz Carlos em mais uma de suas cartas à bela Valquíria.   

Ao final  do quinto ano eles se separaram. Um dizia que as viagens o consumia e que ter filhos não estava em seus planos, o outro dizia que passaria mais 5 anos com ele, mas custou acreditar que aquele amor havia perdido a sua força. Eu me pergunto, será que aquele momento havia de fato terminado? Aquele amor inconsequente havia passado?
Ele foi um sonho bom que aconteceu e que durou os 5 anos que deveriam durar.
E  você não tem idéia de como ela foi feliz.
Logo em seguida ela reencontrou meu pai, mas essa históra merece um momento só dela.

" Vá viver histórias de amor, minha filha"

Eu tenho vivido histórias, aliás boas histórias, das quais ela sabe das mais importantes, pois eu faço questão que ela participe da minha vida.

Ai que vontade que me deu de viajar de Opala e dormir numa barraca na chuva!
Ai que vontade de viver um romace daqueles de 30 anos atrás, em que os olhares se cruzam sem nenhum dos dois achar piegas.



Ao lado de um grande homem está uma bela mulher.
Por trás de uma bela história está um velho Opala.



Até amanhã.

Boa noite.

Bruna Ribeiro

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O dinheiro do mês

Quando minha mãe começou a trabalhar na casa de uma família em São Paulo, as coisas lá na casa de minha avó começaram a melhorar um pouco. Num dia ela trazia minha tia, no outro trazia minhas primas, e assim se seguiam os dias. Eu não sei como você sobreviveria com 100 cruzeiros, mas a minha avó e toda a sua família viviam melhor que muita casa de bacana.
Toda semana o carteiro apontava no pé de um morro próximo á casa de minha avó e, naquele instante, ela sentia um aperto forte no coração. Uma sensação que dá quando a gente espera alguém chegar de viagem depois de muito tempo longe, ou quando a gente vai receber o resultado de alguma coisa, que no final deu certo. Devia ser essa sensação que tomava o corpo dela todo. Ver o carteiro apontando no alto daquele morro era ter a certeza que aquele mês seria mais um mês vivido. Viver no interior da Bahia, há mais de 40 anos não devia ser tão facil não. Precisava de muita farinha com limão para aguentar aquela fome e aquele vento seco que batia forte na pele.
Depois de um mês de espera o carteiro chega com um envelope trazendo 100 cruzeiros vindos de Maria, sua filha, da cidade de São Paulo. Às vezes a pressa era tamanha, que o carteiro nem terminava seu trajeto, minha avó já estava em sua direção.
Mnha mãe conta que o rosto de minha avó se enchia de alegria.

Eu não tenho idéia de quanto sobrava para minha mãe por mês, mas só de saber que a sua família teria mais 30 dias com algum sossego já valia aquele dinheiro do mês.

Essa preocupação com os outros que me fascina, que me torna mais adimiradora dela. A humanidade dela me faz sentir uma coisa boa, um orgulho bom, daqueles que dá vontade de contar para todo mundo.

Quando ela me conta essa história, e eu posso dizer seguramente que esta é uma de suas favoritas, eu penso que aquele carteio foi essencial naquela história, na trajetória de um mês. Mal sabia ele quão bem ele fazia a minha família.

Na moeda atual, 100 cruzeiros não pagaria nem o selo da carta, mas quem se importa. Naqueles meses houve festa no coração de muita gente.

E o seu coração, já ficou em festa por alguém ou por alguma coisa?

Boa noite.

Até amanhã.

Bruna Ribeiro

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um primeiro encontro

Se eu colocar aqui quando foi o meu primeiro encontro com essa idéia toda eu não saberia, apenas sei que bem antes de me entender como gente eu sabia que ela mereceria alguma recordação em forma de texto, se é que eu posso chamar assim.
Nem sei quantas vezes ela me disse que a sua vida daria um livro. Pois bem, que seja assim. Um dia isso pode virar uma junção maluca de uma filha que tem profunda admiração pela pessoa que a sua mãe se tronou, mas por enquanto quero me permitir escrever histórias que eu escutei de sua vida e que me fazem perder o fôlego só de lembrar.
Não sei se isso tudo será interessante para você, mas acho que será tão bom para mim que me atrevo em dizer que você vai se apaixonar por ela. Digo isso, não porque seja minha mãe, mas porque dá vontade de descobrir mais, de sentir mais. 
Às vezes, e acredito que em muitas delas, as histórias não terão uma ordem cronológica. Tudo bem?
Mas acho que será bom.   
As história nascem de conversar no carro indo para São Paulo e de bons finais de semana, por isso acredito que boa parte será do jeito que eu observo as coisas. Mas vai ser bom. 


Não sei quando e nem como aquela manhã em Itambé -BA começava para ela. Quando arrumava as malas eu não sei o que se passava em sua cabeça. Acho que tinha medo, ansiedade e esperança. As duas primeiras podem parecer até obvias, mas a última era dificil de confirmar. Se para mim já foi dificil de mudar para a cidade grande, imagine ela, indo de tão longe para trabalhar em sei lá o que e em sei lá onde. Mas isso eu tenho certeza que eu puxei dela, essa coragem de ir e nem saber o que vai dar.
Daquele dia, ela conta que meu avô ficou na janela que dava para a frente da casa esperando ela sair para dizer o último adeus. E nesa hora eu realmente não sei o que passou em seus pensamentos. Ele repetia; " Vá Maria, aqui não é o seu lugar; aqui é um fim de mundo e lá você vai crescer na vida, ser alguém". E será que ele estava certo? Será que viver na cidade grande é crescer na vida? Naquela hora era.
Meu avô tinha os cabelos lisos, como de um índio, e era magrinho, assim como ela na mocidade. E com aquele olhar baixinho ele deu o seu ultimo adeus. Depois de um mês e meio meu avô havia morrido. A carta chegou na casa onde a minha mãe trabalhava de babá. Que dor, meu Deus. Que dor é essa.

É diferente a maneira como ela lembra de seu pai. Ele era muito bom marido, um bom pai. Mas isso ela simplesmente cita, nunca é seguido de um comentário mais efusivo. Aquele dia, e mesmo que tenha sido o último, é o que ela sempre lembra. Se eu perguntasse para ela qual era a roupa que ele estava usando, seguramente ela saberia responder. Engraçado, né?!



Sejam bem vindos ao meu pequeno passeio por uma história que, de todas as mulheres, ela foi marcante. 


Boa noite!

Até amanhã.

Bruna Ribeiro